terça-feira, 27 de maio de 2008

4 anos sem Elean Thomas

Há quatro anos, Elean Thomas, escritora e ativista jamaicana, era mais uma baixa nas fileiras dos que enfrentam as injustiças com as armas da poesia.
Elean Thomas certa vez declarou: “Não posso fazer nada com a vida, exceto vivê-la. Não gosto de ficar pelas beiradas”. Mulher dinâmica e incansável; socialista incondicional, permaneceu comprometida com seus ideais, seja em sua Jamaica natal, seja na Tchecoslováquia, onde permaneceu durante os anos últimos da guerra fria, seja em Brixton, sul de Londres, acompanhando o marido, Lord Gifford, advogado radical que representou a família do jovem James Wray (22), assassinado por oficiais britânicos no famoso Bloody Sunday (1972).

Elean nasceu em St Catherine, Jamaica, “o resultado da união”, segundo ela mesma, “entre uma pacata, digna e batalhadora mulher de classe trabalhadora e um religioso, arrojado e combativo homem de classe média”. Seu pai, David Thomas, era bispo pentecostal; sua mãe, trabalhadora da área da Saúde. Elean começa a estudar política e história na Universidade das Antilhas (UWI - University of the West Indies) no fim dos anos 60 e, duas décadas mais tarde, completa a pós-graduação em Comunicações no Goldsmiths College, em Londres.

Depois da UWI, ela trabalhou como repórter para o Jamaica Gleaner. Com a eleição do Partido Nacional Popular, de Michael Manley, em 1972, uniu-se ao Serviço de Informação Jamaicano.
Foi da diretoria da Associação Jamaicana de Imprensa e co-fundadora do Partido dos Trabalhadores da Jamaica [Workers Party of Jamaica - WPJ], um grupo marxista iniciado por Trevor Munroe, respeitado acadêmico, o qual considerava Elean como uma das mais proeminentes figuras de sua geração. Como secretária internacional do WPJ, fez parte do corpo editorial do World Marxist Review, com sede em Praga. A partir da então comunista Tchecoslováquia, ela cruzou a Europa, estabelecendo fortes laços também na África do Sul.

De volta à Jamaica, encabeçou a campanha contra a invasão americana à Granada em 1983. Em 1984 teve seu primeiro encontro com Gifford, quando o convidou para falar a um comitê de direitos humanos que ela fundou a partir do episódio da invasão.

Começou a escrever poesias, como admitiria anos depois em uma entrevista ao The Guardian, no começo dos anos 70. Promover a igualdade de direitos das mulheres era o manto que ela sentiu ter herdado de figuras inspiradoras como Queen Nanny, ou Nanny dos Maroons, uma figura emblemática da luta anti-escravidão na Jamaica.
A primeira coletânea de poesias de Elean, World Rhythms From The Life Of A Woman (1986), foi publicada pela Karia Press, editora de propriedade de Buzz Johnson, autor da versão original deste artigo. Ela preferia o termo “cadência de palavras” [word rhythms] à “poesia” para designar seu trabalho, uma homenagem à mãe, que “Sempre deu seu melhor / contra toda diferença / e que me lega / um herança de dignidade e luta /contra toda diferença” [tradução minha].

always tries her best
against all odds
and who bequeaths me
a heritage of dignity and struggle
against all odds.

Em 1988, a Karia Press publica a segunda coletânea, Before They Can Speak Of Flowers. O clamor ao qual a obra foi dedicada chamou a atenção e ganhou o respeito e a admiração de artistas de reggae revolucionários, do Congresso Nacional Africano, de partidos comunistas da Grécia e do Iraque, da Organização pela Libertação da Palestina e diversos grupos anti-opressão.

Em 1991, o romance de Elean “The Last Room” recebe o prêmio Ruth Hadden de melhor romance publicado na Inglaterra [obs.: não encontrei na web referências a este prêmio para ela, apenas a Tim Pears (em 93) e Andrew Cowan (em 94)]. Também trabalhou em “Uma ópera reggae africana” [An African Reggae Opera], composição performática envolvendo poesia, canção, música e relatos orais.
Seu casamento termina em 1998, do qual permanece com uma filha adotiva.

Elean Thomas, nascida em 18 de setembro de 1947, faleceu em 27 de maio de 2004.

::: tradução/adaptação de S. H. Brincher a partir do artigo de Buzz Johnson, publicado em 31 de julho de 2004. Publiquei, neste mesmo blog, outro texto sobre ela, Canção de amor de uma negra.

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