segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sandro Brincher "Uma perna, uma coroa"



Angola é terra de superação. Acabo de ver, e reproduzir aqui, a notícia de que as eleições parlamentares deste ano transcorreram dentro da normalidade, sem qualquer incidente violento; fato impressionante para um país que saiu de uma terrível guerra civil há meia dúzia de anos. Outro fato impressionante sobre Angola é que, segundo estimativas do INAROEE (Instituto Nacional de Remoção de Objectos e Engenhos Explosivos), existem entre 5 e 7 milhões de minas terrestre e engenhos não detonados em Angola, praticamente uma mina para cada dois habitantes. Há entretanto, aqueles que já receberam seu doloroso quinhão.

O artista norueguês Morten Traavik visitou durante meses dezenas de centros de reabilitação de sobreviventes de minas terrestres em toda Angola em busca de beleza. Exato, beleza. Sua idéia era reunir candidatas para o concurso Miss Landmine, idealizado por ele, que premiaria a vencedora com uma prótese. Não é necessário dizer que sua iniciativa foi repudiada por muita gente, sobretudo pelos que jamais moveram uma palha em relação ao assunto, mas que estão sempre prontos a atacar atitudes alheias.
À parte a discussão ética, o aspecto artístico do concurso deveria ter despertado mais que repulsa. Afinal, estamos falando de um concurso de beleza onde os moldes são absolutamente marginais: mulheres, negras, africanas, de cujos corpos falta um membro que é justo o que lhes permite andar normalmente. Vítimas da discriminação mesmo entre os seus.
É preciso dizer, também, que não fosse o concurso, algumas dessas mulheres jamais alçariam suas vozes, jamais teriam toda essa atenção voltada a elas e, afinal, ao problema primordial: a covardia das minas e os efeitos que trouxeram a milhares de pessoas em um país que está cansado de chorar suas perdas.







Assista a um pequeno documentário sobre o Miss Landmine: http://www.miss-landmine.org/film.html

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