sábado, 15 de setembro de 2007

O "racismo científico" de Louis Agassiz

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Jean Louis Rodolphe Agassiz (1807, Suíça – 1873, EUA).
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Predominou em todo o mundo ocidental durante o século XIX uma doutrina que se pretendia científica, cuja base era a idéia de que existem diferentes hierarquias dentre as principais "raças" da humanidade. Logicamente, a idéia subjacente era a de promover a raça ariana como a mais bem desenvolvida, mais inteligente e, portanto, a mais apta a governar os ovos de outras raças. Os africanos, por exemplo, seriam considerados fortes, lascivos, obstinados, mas incapazes de lidar com situações complexas e que requeiram habilidades lógicas, exclusivas dos arianos. Tal teoria, cujo pioneiro foi Arthur de Gobineau, foi tão difundida que chegou mesmo a influenciar autores brasileiros como Sílvio Romero, um dos grandes nomes da historiografia literária brasileira.
Zoólogo e geólogo suíço radicado nos EUA, Louis Agassiz esteve no Brasil em expedição científica entre 1865 e 1866, dedicando-se sobretudo à Amazônia. A exemplo de Gobineau, criticava a mistura étnica, atribuindo-lhe alguns dos “males” da formação social e cultural brasileira. A Amazônia foi para ele como um laboratório de estudos sobre a mestiçagem brasileira e ajudou a fortalecer, no campo político, a segregação dos negros promovida então pela elite norte-americana.

Transcrevo abaixo um excerto de sua Viagem ao Brasil, traduzido por mim. O texto entre colchetes é inserção minha:

(p. 128)
29 de julho. Deixando Maceió. Na tarde passada, finda a chuva e com o luar a tentar a todos a bordo, tivemos uma longa conversa com nosso agradável companheiro de viagem, Sr. Sinimbu, senador da província das Alagoas, sobre aspectos da escravidão no Brasil. Parece que temos algo a aprender aqui sobre nossas próprias perplexidades com respeito à posição que a raça negra ocupa entre nós, já que os brasileiros tentam gradualmente alguns daqueles experimentos que entre nós são forçados sem prévia preparação. A ausência de qualquer restrição sobre os negros livres, o fato de que eles são aptos ao trabalho e de que todas as carreiras profissionais estão abertas a eles, sem preconceito no âmbito da cor, permitem-nos formar alguma opinião quanto às suas habilidades de desenvolvimento. O Sr. Sinimbu nos diz que os resultados apontam em seu favor; ele diz que os negros livres são perfeitamente comparáveis aos brasileiros e portugueses em inteligência e produtividade. Contudo, é preciso lembrar, comparando-se a situação com a de nosso país, que aqui eles [os negros] foram colocados em contato com raças menos poderosas e enérgicas que a Anglo-Saxã”.

Referências
AGASSIZ, Louis. A journey in Brazil. Boston: Ticknor and Fields, 1868.

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